Oxalá algún día esperte e o dinosaurio xa non estea
alí
Não à Guerra!
Visitando a web da Voz de Galicia, para me informar sobre o que está acontecendo por estas terras, não pude resistir a tentação de clicar no álbum que prometia um dia com Manuel Fraga Iribarne. Sei que é masoquismo, mas talvez não é casual o fato de Sacher-Masoch, o autor que dá injustamente nome a tão lastimosa tendência, ter nascido na Galitza eslava. Talvez seja mais do que coincidência, um perigoso paralelismo. Mas o caso é que percorri essas 12 fotos de Manoil, dedicadas a mostrar ao mundo que o presidente não só não está morto, não só não é uma holografia, uma múmia, um fantasma, mas está forte e rejo como um buxo, lipotímias à parte. Felizmente, o das 24 horas era exagero, fomos dispensados de acompanhar a horripilante visão do presidente em pijama, perdendo-se assim a oportunidade de unir no imaginário histórico coletivo a sua figura à de John Lennon e Yoko Ono naquela mediática encamada pela paz. Porque, aliás, o presidente não dorme nunca. Ás seis horas da manhã aparece fazendo a primeira e abundante refeição do dia, com o guardanapo amarrado no pescoço, mergulhado plenamente no entranhável personagem do Manolo, segundo a camaleônica capacidade para encarnar en diversas pessoas frente à mídia que lhe diagnosticou sabiamente num feliz artigo Manuel Rivas (recolhido em Galicia, Galicia). Mas logo, por volta das oito horas, no gabinete presidencial, quem dá ordens à secretária, quem recebe com atitude distante e despótica aos próprios conselheiros é novamente Dom Manuel, o Guardiã do Ocidente Ibérico, o homem que maneja com mão firme as rédeas do país. Depois é o Fraga de sempre, o ciclão de Vilalba, quem inaugura e discurseia sem descanso, de norte a sul e de leste a oeste, dando lugar a ocasionais ressurgimentos do Manolo para fazer várias parvas na manhã e beber alvarinhos e godelhos e deglutir tapas com voracidade juvenil. Eis a prova. Os pés de foto sublinham o óbvio, a realidade empírica impõe-se, o presidente ainda nos vai levar a todos por diante. Só o ministro da propaganda de Franco pode estar atrás de uma montagem dessas caraterísticas, no jornal que volta ao redil das fidelidades eternas, para demostrar que, embora os rancorosos digam o contrário, Galiza tem presidente. Um presidente vivo, quero dizer. E que vela por nós dia e noite.
Para esta e outras campanhas "informativas", destinadas a formatar as consciências, contam com a nossa capacidade para assimilar imagens. A realidade construi-se diante dos nossos olhos, numa foto fixa. E quem se move, como todo o mundo sabe, não sai na foto. Aí está Aznar, retratado como escudeiro dos senhores da guerra e do mundo. Pensando, sem dúvida, sob as sobrancelhas, trás o bigode, solerte, que essa fotografia vale o que custa. As caras de debilóides dos três líderes mundiais (quem o diria, hein?) fazem tremer qualquer alma sensível. Eis a certeira análise de Manuel M. Barreiro, em artigo publicado hoje em Vieiros:
"Chegados a este punto, cómpre lembrar un certeiro ensaio sobre a estupidez escrito polo economista e historiador Carlo M. Cipolla. En "Allegro ma non troppo", Cipolla establece catro tipos ideais de persoas (tamén vale para gobernantes). Están os malvados que son os que lles fan mal aos demais e se fan ben a si mesmos. Os cándidos fanlles ben aos demais e mal a si mesmo. Os intelixentes son aquelas persoas que lles fan ben aos demais e se fan ben a si mesmos. Por último, están os estúpidos que son aqueles que lles fan mal aos demais e se fan mal a si mesmos.
Aí nos quedan as fotografías do Cumio dos Azores. Durão Barroso, relegado ao tímido e modesto segundo plano dos que acaban de chegar; o neolaborista Tony Blair, un chisco retrancado neste momento de gloria; un plenipotenciario George Bush no centro do foco que estende a súa man protectora sobre o ombreiro dun José María en pleno transo neoimperial. Un cándido, dous malvados e un estúpido. Adiviña quen é quen".
Resta-nos a nossa capacidade para LER imagens. As que produzem para nós e as que nos ocultam (que na iminente guerra que se prepara, pretensamente rápida e cirúrgica, serão muitas). O deserto de Kuwait, na fronteira com o Iraque, convertido já num imenso e poeirento platô de televisão. Mas para ler as imagens não estamos sós. E para reagir temos esta e outras redes de resistência.
Não à Guerra!
Xoán Lagares
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