Fican avisados: deste ano non pasa sen que eu baixe alá a Lisboa para compartir viño e tertulia co moStrenGo adamastoR, un luxo da blogosfera do alén Minho. Unha das visitas diarias para min imprescindíbeis. Pedinlle que fixera un post sobre as inminentes eleccións presidenciais portuguesas e escribiu esta deliciosa maravilla. Non lles digo máis. Non é preciso.
We are the Famous Five!
O vencedor antecipado é
um Professor de Economia que estudou em Inglaterra e que se diz pouco dado à política. Garante que só chegou a presidente do PSD porque precisava de fazer a rodagem do seu carro novo, num Congresso na Figueira da Foz. O acaso, também, terá ditado que fosse o único governante a gozar de um período de total estabilidade política e abastança financeira, durante praticamente uma década. Ficou conhecido por ser um bom aluno da Europa e por fazer as auto-estradas que o país precisava para que os europeus cá chegassem. Apresenta-se agora como o D. Sebastião que irrompe o denso nevoeiro, apagada da memória a humilhante derrota eleitoral sofrida frente a um quase desconhecido Presidente de Câmara lisboeta, há dez anos. Terá maioria absoluta, a terceira, à primeira volta, e esperam-no mais dez anos seguidos de poder absoluto.
O candidato derrotado à partida é
o mais velho. Aos 81 anos, o pai da democracia portuguesa esqueceu que a mesma quer emancipação, sair sozinha sem horas para voltar, sem levar fotografias a preto-e-branco no bolso. A comunicação social que sempre lhe agradeceu o papel único na consagração da revolução de Abril, abandona-o agora, aponta-lhe as
gaffes e as tremuras, mostra-lhe as rugas vincadas como se fossem cicatrizes. O ancião ainda venceu todos os debates televisivos que se lhe depararam [ainda que rígidos nas regras e pouco dados a confrontação à antiga], mas não convenceu os analistas, os próprios correligionários atemorizados pela vitória antecipada da direita, muito menos o povo insatisfeito.
Outro vencedor antecipado é
um poeta esquerdista sem grande currículo mas imagem imaculada. Alegre nunca exerceu cargos de destaque em Portugal, não se recordam dele intervenções marcantes enquanto deputado ou político, mas declama com voz sonante e orgulhosa os valores de uma esquerda que já não controla o PS. Boémio como convém, joga tudo para ficar à frente de Soares, numa vitória moral que constituirá o ponto alto da longa carreira. Se ficar em terceiro lugar, hipótese pouco provável, acaba da pior forma. Ainda alimenta o sonho de obrigar Cavaco a uma segunda volta. Caso consiga, o susto da direita será estrondoso.
O mais simpático de todos, todos o dizem, é
um ex-operário fabril com bom pé de dança. Jerónimo de Sousa continua a surpreender, depois de ter ganho um debate em que nem sequer conseguiu falar, nas legislativas passadas. O eleitorado comunista não engole sapos, para já, e vota com orgulho no homem que fez esquecer o silenciamento da ala renovadora do partido. Morto Álvaro Cunhal, o novo secretário-geral mostra a família, a sua casa, fala dos seus
hobbies e apresenta-se como ser humano. E resulta, até fora da esfera comunista.
Finalmente, o mais jovem dos candidatos,
outro Professor de Economia, do lado mais radicalmente oposto ao primeiro. Francisco Louçã é um deputado de retórica aprumada e resposta estudada na ponta da língua, avesso ao uso de gravata, aparentemente moderno e insurrecto. Apesar do esforço e da imaginação, dificilmente escapa ao último lugar entre os grandes, mas ficará satisfeito se ultrapassar a barreira dos 5% de votos.
moStrenGo adamastoR
the night of the hunter: Claire Denis
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